terça-feira, 7 de outubro de 2014

A DESCOBERTA

Meia hora sentado respirando solidão, embaixo de árvores que não me pertencem, que não pertencem a ninguém, assim como ela. O crepúsculo se fez noite, ela se foi, mas tudo em mim está imobilizado pela lúcida compreensão do que não tenho.  Com exceção do constante exalar da respiração, minha figura estática poderia ser confundida com a estátua de algum triste e reflexivo herói. Antes de quedar-me ali, eu estivera movimentando-me furtivamente ao redor da casa, espreitando uma janela ou outra, com o assentimento alegre de Fuligem.
 Toda essa confusão iniciara-se por volta das dezoito horas, quando cheguei do trabalho e encontrei um bilhete colado na geladeira:  “ Fui levar um recado ao seu irmão.”
Parti ao seu encontro. Não havia desconfiança, mas não gosto do bastardinho, todos na família sabem que ele não tem nosso sangue, mas o tratam normalmente.  E minha esposa e ele ficam sempre de conversa um com o outro, não sei de onde vem tanto assunto. De qualquer forma, aproveitaria para rever o mano e a cunhada.
A escuridão do quintal e da varanda atiçou minha imaginação e me colocou nesta posição incômoda. Acelerei o passo e entrei pelo portão dos fundos, sem nenhum barulho, fazendo festa na cabeça de Fuligem para que ela não denunciasse minha presença. Vi a luz azulada da TV por uma fresta da casa velha, caminhei em direção à janela aberta e semi agachado, os vi na sala.
Assistiam algo, cada um em uma poltrona, atentos ao que acontecia na tela. Pareciam estar a muito tempo ali, pois as pernas dela estavam dobradas sob seu corpo e ele recostava-se como quem está preste a escorregar, imóvel em alguma posição.  Minhas pernas estavam com câimbras quando ele finalmente se levantou e se dirigiu à cozinha, falando algo que não pude entender. 
Ele acendeu a lâmpada.
Ela desligou a TV.
Saí em busca de um observatório melhor posicionado e o encontrei na área de serviço, próximo à porta de saída da casa. Agachei-me protegido pela máquina de lavar e que me dava um campo visual até melhor, devido a claridade da única lâmpada acesa.
Meu coração se acelerou. Ele vestia apenas a calça e o cabelo estava molhado, indicando um banho recente e isto por si só era muito suspeito. Estavam tendo um caso. A verdade parecia gritar nos meus ouvidos e ecoar na caixa craniana, sem produzir qualquer efeito, a não ser um leve tremor nas mãos.
Minha mulher e meu sobrinho. Safados. Dele eu esperava esse tipo de comportamento, porque se trata apenas de um bastardinho, mas ela sempre fez questão de ser tão correta. No entanto, eles não escapariam. Bastava que eu tivesse paciência e poderia pegá-los em flagrante, aos beijos quem sabe. Era questão de minutos, pois se são amantes, estão sozinhos, protegidos entre quatro paredes, naturalmente começarão a pouca vergonha. Esse moleque, que não respeita nem a casa do pai e essa vagabunda que não se dá ao respeito.
Enquanto ela se senta na cadeira, voltada para o fogão e de costa para onde estou, ele mexe nas panelas, acende o fogo, vai até a geladeira, volta com umas tiras de bacon, corta sobre a mesa, joga na panela. Posso ouvi-los, mas eles falam pouco, parece que sobre o filme que estavam assistindo. Ela conta sobre a parte que ele perdeu enquanto estava no banho.  Será que sabiam o tempo todo que estavam sendo observados e queriam me enganar com tudo isso?
Uma garrafa de uísque? Desde quando minha mulher toma bebe isso? Eles riem muito enquanto partilham aquela dose. Usam o mesmo copo e o som das risadas é quente. Estou surtando. Sinto-me um intruso diante daquela estranha que toma uísque e ri com outro homem. Será que tenho o direito de invadir a privacidade deles assim? Droga! Eles não são um casal e o corno sou eu!
Quando esse beijo vai acontecer, meu Deus? O feijão já ferveu, o arroz está pronto. Ela põe a mesa com a intimidade de quem conhece a casa. Durante todo o tempo eles conversam e riem. Num gesto descabido, ele vai ao quarto e ao voltar está de camisa, cabelos penteados e sentam-se para jantar, de frente um para o outro.
Quero sair do meu esconderijo, gritando impropérios, mas de quê acusá-los, até o momento? Estou me sentindo cada vez mais ridículo. Os sons de conversa e riso, as pequenas provocações verbais entre eles já me irritaram sobremaneira, mas permaneço até que terminam de jantar e ele recolhe os pratos.

Ela avisa que tem que ir. Que devo estar preocupado e que ele sabe que sou muito ciumento. Preparo-me para o grande final, quase me ponho de pé, porque ela vai sair pela porta da frente e ele vai beijá-la.  Mas eles apertam-se as mãos e se beijam no rosto. Eu me dirijo ao fundo do quintal e me quedo sob as árvores, onde a existência não me vê e de onde imagino um acenando adeusinho para o outro.

sábado, 4 de outubro de 2014

Da partida inevitável

Quero partir como os pássaros, num final de tarde, com o céu de alaranjando, sem deixar nenhuma pena para trás, como muitas das personagens de Mia Couto que desaparecem, magicamente, sem deixar vestígios.
Nesse dia qualquer, que meus dez amigos se reúnam para tomar um cafezinho e digam sobre mim apenas o essencial:

  • que amei o entardecer, com o sol iluminando a copa das árvores com raios delicados;
  • que apreciava toda forma de arte, mas sobremaneira não vivia sem música;
  • os livros eram meus maiores  tesouros;
  • o luar me arrancava suspiros;
  • tinha uma anomalia genética inexplicável: um coração para cada filho;
  • amava de muitas formas e ainda acreditava que poderia cuidar o mundo;
  • era escritora, mesmo sem ter escrito um livro sequer;
  • conversava com os animais e eles entendiam;
  • e sorria para os ipês, porque os compreendia.
Não espero que chorem, mais que saibam que estou por aí, partícula integrada ao mundo que sempre permanece, rindo, segurando um troféu chamado liberdade.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O aconselhamento em Orientação Educacional

(Texto escrito enquanto esperava uma bolsa de sangue no hospital)

Por mais que a literatura especializada e a nossa formação nos afaste deste tema, há uma demanda constante dos professores para que façamos atendimento individualizado, na maioria das vezes, aconselhamento. A literatura é bem clara: o atendimento coletivo, os projetos, etc, são prioritários, premissa sobre a qual nem sequer discuto, por sabê-la fundamental. Mas o que fazer com esta outra demanda? Ignorá-la? Renegá-la?
Pode o aconselhamento efetivamente funcionar? De que forma? Sigo alguns passos na minha prática profissional, que coloco como dica aos colegas:
  1. Se checar e verificar os âmbitos da relação pedagógica e nada indicar deslocamento, é preciso abandonar o aluno e ouvir o ser humano.
  2. Ouvir requer, principalmente, despir-se de qualquer ideia preconcebida a respeito do tema abordado pelo aluno. Esqueça sua religião, esqueça seus preconceitos, fuja das suas considerações sobre o que é ou não importante.
  3. Não há como aconselhar de forma eficiente sem a formação do vínculo entre aconselhador e aconselhando. Essa questão é controversa, mas se o aluno confia e respeita você, as chances de que o aconselhamento funcione são bem maiores. Palavras lançadas através de uma relação de superioridade, dificilmente surtem efeito.
Todas estas considerações conduzem para as seguintes questões:
  1. Como estabelecer e manter o vínculo?
  2. O que o professor busca no aconselhamento?
  3. Como realizar a devolutiva para o professor sem quebrar o vínculo (confiança)?
  4. É possível que o aconselhamento se dê em sessão única?
Ao pensar na construção do vínculo, há uma questão essencial a ser considerada: todo ser humano é único e isso torna muito difícil padronizar o atendimento, criando regras abrangentes.
O professor, por sua vez, na maioria dos casos, busca apoio para a sua própria prática pedagógica: indisciplina e não aprendizagem. É como se quisesse confirmar que o problema é sempre a criança, quando na maioria das vezes, não é. E a expectativa do professor é que, levando o aluno para que o OE atenda, em apenas uma sessão, tudo ficará bem. No entanto, o que fazemos é buscar a origem do problema, partindo do micro-ambiente, que é a sala de aula, para os macro ambientes, que abrangem espaços maiores e interseccionam-se com outras esferas de ação.
Problemas de aprendizagem tem, inicialmente uma rotina diagnóstica que abre para áreas básicas:desenvolvimento de habilidades intelectivas, saúde, relacionamento professor x aluno, convivência  no ambiente escolar e metodologia de ensino.
Dificilmente numa conversa inicial com o estudante trará todas estas respostas, tanto em se tratando de crianças muito novas, ou adolescentes, mas a experiência do OE e o conhecimento que ele já traz desse bioma escolar muitas vezes o leva a intuir certeiramente, facilitando o processo.
Quando a questão diz respeito ao meio escolar, geralmente é mais fácil de ser resolvida, mesmo quando se torna necessário envolver o professor e a equipe gestora no assunto.
Entretanto, ao perceber que os problemas fogem ao fazer pedagógico, há um caminho mais delicado a ser percorrido. há um jogo de conquista da confiança, até que o aluno possa se abrir, principalmente se ele estiver na puberdade, ou na pré-puberdade. Acredito ser fundamental neste momento que o sigilo profissional seja deixado claro ao aluno. Que ele saiba que, para além do sigilo, também não haverá julgamentos morais e que, ao lado da figura de autoridade que jamais poderemos abandonar, existe o amigo. Somente de posse das nuances do problema , sem se permitir juízo de valor, deve o orientador aconselhar, com todo o respeito e com a consciência da profunda responsabilidade  imbuída nesta ação.
A criança pequena, em sua inocência, costuma logo se aliviar, seja através do desenho, ou da fala e neste caso, havendo problemas no núcleo familiar, este deverá ser imediatamente contactado para a discussão da problemática e encaminhamento ao especialista, geralmente psicólogo, assistente social ou, em casos de abuso, Conselho Tutelar.
O tratamento dado ao adolescente vai depender muito mais do aconselhamento e da orientação. Quando nos são relatados casos de abusos, violência, desestruturação familiar grave, é através do vínculo de confiança que vamos prepará-lo para o momento de abrir o jogo  e procurar os órgãos de defesa. Pela minha experiência, quando ele chega a relatar o caso a você, normalmente, em poucos dias ele se sentirá forte e pronto a enfrentar a situação. Em minha prática profissional isso raramente deixou de acontecer.
A devolutiva para o professor envolve outra relação de confiança. Quando há problema em relação ao ambiente escolar ou ao fazer pedagógico, é uma devolutiva é sempre aberta, completa. mas quando envolve o aluno, sua individualidade, sua família, etc., a devolutiva é sempre parcial, para que não haja uma quebra do vínculo ou do sigilo profissional do OE, sendo nesta situação que tanto professor quanto gestores precisam confiar no trabalho da orientação, na capacidade de discernimento que o profissional possui sobre quando e como fazer aquilo que lhe compete.
Encerro com um trecho de um livro chamado 13 Porquês, de Jay Asher, porque na história, a última pessoa em quem  ela colocou  suas esperanças foi  o OE:

[...] Obrigada, Sr.Porter.
Hannah. Espere. Você não precisa ir embora.
Eu grito entre as barras. Por cima das árvores.
Não.
Acho que é isso. Não deixe ela sair. Já consegui o que buscava.
Acho que temos mais coisas para conversar, Hannah.
Não, acho que já destrinchamos tudo. Preciso seguir em frente e deixar isso pra lá.
Não é deixar pra lá, Hannah. Só que às vezes não resta nada a fazer a não ser seguir em frente.
Não deixe ela sair desta sala. O senhor está certo. Eu sei.
Hannah, Não entendo por que você está com tanta pressa para ir embora.
_ Porque preciso levar as coisas em frente, Sr. Porter. Se nada vai mudar, então e melhor eu leva tudo em frente, certo?
Hannah, do que você está falando?
_ Estou falando da minha vida, Sr. Porter.
Uma porta se abre.
Hannah, espere.
Uma porta se fecha. O zíper se abre. Passos. Passos ganhando velocidade. Estou descendo o corredor. Sua voz está clara. Mais alta. A porta dele está fechada atrás de mim. Ela permanece fechada. Uma pausa.
Ele não vem. Pressiono o rosto, com força, nas barras. Sinto como se elas fossem uma prensa que vão apertando meu crânio quanto mais eu empurro a cabeça contra elas. Ele está me deixando ir embora. O ponto atrás da minha sobrancelha lateja intensamente, mas não toco nele. Não esfrego. Deixo latejar. Acho que me expressei com muita clareza, mas ninguém deu um passo para me impedir. Quem, Hannah? Seus pais? Eu? Você não foi muito clara comigo. Muitos de você sem importaram comigo, mas não o bastante. E isso... isso é o que eu precisava descobrir.
[...]
Alguns não sentirão vontade de retribuir as mesmas palavras. Alguns ficarão com muita raiva de Hannah, por ela ter se matado e colocado a culpa em todo mundo.[...]



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Lucidez

Os primeiros raios rasgam a manhã, sinto a luz à sorrelfa pelas frestas da barraca. O cheiro é uma mistura de frescor do orvalho e de outros que já se encontram no limiar da realidade. Estou calma, quando deveria sentir me apavorada. Antes que tenha que enfrentar o meu ato, repasso minha história lentamente, deitada sozinha, no colchão inflável. Tenho sessenta e cinco anos e considero que tive uma boa mostra desta vida, do amor ao ódio, da paz ao desespero, da esperança ao caos. Na maior parte do tempo conheci apenas a pacata vida de uma mãe extremada, excelente dona de casa e boa esposa.
Se penso em tudo isso é porque quando o sol expuser o que fiz durante a noite, ninguém mais se lembrará de quem sou. E aqueles que se lembrarem, serão para menear a cabeça, quase inacreditando que enlouqueci.
Tenho cinco filhos, mas apenas quatro estão comigo. O pai caminhou ao encontro do último, nesta longa madrugada. Dos vivos há pouco a falar: dediquei-lhes toda a energia que me foi possível, até que estivessem fortes o suficiente para voarem.
Morando em região rural, lutando com dificuldades, engravidei sucessivamente por quatro vezes. Tive meninos saudáveis e que afora as despesas, nos davam muita alegria. Eu ainda era jovem e forte, criada para servir ao bom marido que conquistara, quase sem palavras. Com os meninos crescendo, meu corpo parecia ter perdido o interesse em reproduzir a espécie e estávamos confortáveis com a ideia.
Dez anos depois, em meio a uma crise financeira forte, uma nova vida crescia insuspeitadamente dentro de mim.  E crescia com a determinação das fêmeas, era a menina que eu sempre sonhara. Meu esposo angustiava-se, mal podíamos nos alimentar e agora, mais esse transtorno.
Numa noite, em que nada vendera na cidade, disse que iríamos acampar na beira do rio, para pescarmos. Coloquei a janta para as crianças, acendi as lamparinas e arrumei os mosquiteiros nas camas. Partimos em seguida.
Na beira do rio, ele me mostrou os comprimidos. Disse onde eu deveria introduzir e que os outros dois eu deveria beber. Não haveria contestação, ele era meu marido . Sofri durante toda a madrugada. Se ele tivesse rasgado minha barriga com o facão, talvez doesse menos.
Meu corpo por fim a cuspiu. Morta, mas perfeitinha. Cabia na palma da mão e ainda sobrava espaço. Enrolei- a com um pano, mas estava fraca demais para enterrá-la. Rezei por meu pecado e entreguei o pequeno pacote a ele, para que lançasse no rio.
Chorei cada gota daquele rio por algumas semanas e até cheguei muito perto de atirar-me a água em busca de paz. A existência dos meus filhos me impediu e quando meus olhos secaram, prossegui, como um último fio que suporta o peso de todo o tecido. Durante o dia, cuidava dos meus afazeres. À noite, por vezes, ainda emprestava-lhe meu corpo para que aplacasse sua fome. E lembrava, quando ele já ressonava, esquecido de tudo.
Durante 15 anos, eu soubera o que faria. E agora que eu havia feito, me sentia inteira de novo. Por que esperei tanto, é a pergunta que muitos farão. Porque creio na hora certa para cada coisa. Porque havia quatro filhos que necessitavam de pai e mãe e porque o fruto só amadurecesse depois de um longo processo de semente, árvore e flor.
Ontem, convidei-o para pescar. Estava uma noite escura, bastante propícia. Ajudei-o a montar a barraca. Pescamos um pouco e ofereci-lhe um chá, antes de dormir. Tomei o cuidado de colocar meio vidro de gotas de calmante. Ele é muito fraco para essas coisas e logo estava  dormindo profundamente.  Dei-lhe um tiro na testa, como vira tantas vezes na TV e me pus a trabalhar na parte mais difícil: levar o corpo até o rio.
Foram necessárias cerca de duas horas para cobrir a curta distância, arrastando aquele peso. Não pude arremessá-lo como ele fez com a menina, mas rolei para dentro d’água e ouvi somente um baque sujo.

Voltei para a barraca. Lavei minhas mãos e dormi tranquila. Eles agora terão uma chance para se conhecerem.  Espero o dia amanhecer, para duas coisas: contar a meu filhos e chamar a polícia.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

PENÉLOPE PARA MULHERES



Assisti a uma comédia, de 2007, chamada Penélope e confesso que minhas projeções com relação a ela eram de que se tratasse de algo sem nenhum proveito, feito apenas para entreter. O roteiro é daquele conto de fada tradicional: garota nasce com um defeito (no caso, aparência de porco) que é resultado da maldição de uma bruxa e cujo feitiço só será quebrado quando “ um de sua própria linhagem a amar e a tomar para si por toda a vida”. A mãe passa o tempo a procurar alguém de sua própria linhagem (sangue azul. Alguém aí falou príncipe encantado?) e para isso submete a garota a vários constrangimentos. Um dia aparece um pretendente que não foge, mas então é Penélope quem foge dele. Todas nós já passamos por isso na vida, não é? Achamos que alguém pode nos ferir porque somos assim ou assadas e fugimos.

Mas voltando ao filme, neste ponto a personagem se rebela e sai de casa, passando a ter uma vida e amigos. O mundo aceita Penélope como ela é e, então surge um interesseiro e a pede em casamento visando publicidade. A mãe a faz aceitar o casamento para que ela volte ao normal (padrão) e seja feliz. Na cerimônia a garota diz não e se tranca no quarto. Quando a mãe bate na porta e implora que ela se case, ela grita de volta que se ama e não quer mudar. Ela se aceita e com a aceitação vem a transformação. 

A garota fica maravilhada ao descobrir que durante mais de vinte anos de sofrimento, todo poder estava no amor próprio que ela poderia se dar. Neste ponto é que achei válido o filme. A mocinha não precisou do príncipe encantado, do herói que salva. Ela descobriu que o poder salvador estava nela. Amar-se é o que de melhor a gente pode fazer, por si e pelos outros. Na auto aceitação nos transformamos, vibramos e somos capazes de atrair coisas boas. Fora que para uma feminista de carteirinha esse gran finale diz tudo: não precisamos de quem nos salve, nos salvamos e vamos ao encontro do outro apenas para estabelecer uma parceria em pé de igualdade, para tornar nossa jornada mais florida.

domingo, 26 de maio de 2013

PARA NÃO ESQUECER

O tempo passa e faz com que esqueçamos as pérolas que as crianças pequenas soltam tão facilmente todos os dias. Geovana está
com cinco anos e hoje foi um dia de muita inspiração.
Diálogos
1.       _ Geovana, você é a caçulinha favorita da mamãe!
_ Aaaaaaah! Mããããããe! Mas só tem eu de caçulinha, né! (Esperta esta garota.)
2.       _ Mãe, amanhã você não vai trabalhar porque você esta muito gripada, né?
_ Vou sim, amor.
_ Não,  mãe. Porque você gripada assim não faz nada e ainda passa gripe para os outros. (Sabe das coisas.)
 Frases:
1.       Minha tia está indisponível. (De onde esta criança tirou essa palavra?)
2.       Eu tô sendo corajosa, mãe, porque sem coragem a gente nem vive, né? (Enfrentando formigas...)
3.        Deus pai dos ternos, meu guarda-roupa tá cheio de formiga!!!!!!!!! (Acho que era pra ser Deus pai eterno)
Decidindo nome para a cachorra:
Acho que vou trocar o nome dela, não tô gostando mais de Julie. Vou chamar ela de Romeu e Julieta.



segunda-feira, 15 de abril de 2013

O encantador das tardes


Tarde sufocante e céu nublado, por volta de quatro da tarde entrei num coletivo rumo ao centro de Porto Velho. Não havia lugar para sentar e à medida que o ônibus avançava novos passageiros me empurravam em direção à porta de saída. Já bem próxima, ouço :  “...sua tristeza é tão exata e hoje em dia é tão bonito...”.Busco o dono da voz e do atrevimento de cantar no busão lotado, quando percebo que é o motorista quem canta enquanto manobra o volante. Cúmplice da ousadia, acompanho “...já estamos acostumados a não termos mais nem isso..”    Antes do ponto em que eu ia descer, ainda cantamos Monte Castelo e um trecho de Teatro dos Vampiros. Sorrimos um ao outro com cumplicidade na despedida e quando novamente olhei o céu, o sol se punha numa alegria primaveril, dourando as nuvens.