sábado, 4 de outubro de 2014

Da partida inevitável

Quero partir como os pássaros, num final de tarde, com o céu de alaranjando, sem deixar nenhuma pena para trás, como muitas das personagens de Mia Couto que desaparecem, magicamente, sem deixar vestígios.
Nesse dia qualquer, que meus dez amigos se reúnam para tomar um cafezinho e digam sobre mim apenas o essencial:

  • que amei o entardecer, com o sol iluminando a copa das árvores com raios delicados;
  • que apreciava toda forma de arte, mas sobremaneira não vivia sem música;
  • os livros eram meus maiores  tesouros;
  • o luar me arrancava suspiros;
  • tinha uma anomalia genética inexplicável: um coração para cada filho;
  • amava de muitas formas e ainda acreditava que poderia cuidar o mundo;
  • era escritora, mesmo sem ter escrito um livro sequer;
  • conversava com os animais e eles entendiam;
  • e sorria para os ipês, porque os compreendia.
Não espero que chorem, mais que saibam que estou por aí, partícula integrada ao mundo que sempre permanece, rindo, segurando um troféu chamado liberdade.


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