domingo, 30 de maio de 2010

RECOMENDO: O amor constrói. Mas não ensina a tabuada

Estava numa sala de espera e por falta de opção comecei a folhear uma VEJA, mesmo consciente de que  estaria ali o  besteirol distorcido de sempre. Para minha grata surpresa encontrei esse artigo aqui, que trata do mais recente modismo na educação brasileira, cujo intuito é encobrir o nosso retumbante fracasso nesse setor e aplacar as consciências mais sensíveis. Estou em pleno acordo com o que foi dito pelo autor do artigo: antes de qualquer coisa é necessário pelo menos que a escola ensine a ler, escrever e raciocinar logicamente, depois, se sobrar tempo preocupa-se com outros assuntos, como a afetividade. Mas no momento o que domina a lógica entre os profissionais do ensino é a idéia de que qualquer "progresso" do "coitadinho" deve ser considerado relevante e critério quase universal para a sua aprovação, porque o que importa é promover a auto estima, já que ele é marginalizado, tem uma família distorcida, etc. etc. etc. VALE A PENA LER, MESMO CORRENDO O RISCO DE SER CHAMADO DE REACIONÁRIO. 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O EUFEMISMO NOSSO DE CADA DIA

Há alguns anos atrás, um adolescente que cometesse atrocidades como roubar, matar, violentar, etc. era chamado de BANDIDO. Depois de um certo tempo ele se transformou em MENOR INFRATOR e na semana passada uma notícia me surpreendeu pela capacidade de tentar encobrir o inaceitável utilizando-se de belas palavras. Os bandidos agora são chamados de MENORES EM CONFLITO COM A LEI. É um termo até bonito, mas não consola a família das vítimas e não redime a animalidade dessas pessoas, que muitas vezes já tem idade para decidir o destino de um país através do voto, mas não respondem pelas maldades que cometem. 
Com certeza, muitos os justificam pela posição social e econômica, pelas mazelas familiares, educação precária ou qualquer outro fator, e o objetivo aqui não é explorar a temática da criação do monstro, é mostrar que ele existe e que a moda agora é protegê-los e resguardá-los com eufemismos cada vez mais inócuos, que não enxugam as lágrimas de quem perdeu seu filho na mão de um deles.
Eu me pergunto quem levantará a bandeira por nós, que mesmo na pobreza e adversidade social formamos gente de bem, jovens de mente sadia? Quem fará protestos pedindo maior rigor nas punições desses marginais e redução da maioridade penal? Onde está o Direito Humano para a minha família e todas aquelas que deram duro para formar gente decente?


domingo, 9 de maio de 2010

A CANÇÃO DE QUALQUER MÃE

Lya Luft
Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.



Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.


Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.



Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.


Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter. 

Esse texto diz praticamente tudo que eu gostaria de dizer aos meus filhos e de uma forma poética. 
EU NÃO SERIA O QUE SOU SEM VOCÊS: JOYCE, ALEXANDRE E GEOVANA

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

PROBLEMAS ANTIGOS EM TEMPOS MODERNOS

BOA NOTÍCIA: Fui convocada para tomar posse na prefeitura de PVH.
NOTÍCIA RUIM: Exigem um laudo da coluna.
SOLUÇÃO CRIATIVA PARA O PROBLEMA: Será que o médico não pode usar o photoshop para corrigir minha coluna antes de "imprimir" a radiografia????

domingo, 2 de maio de 2010

MEU MELHOR AMIGO, GUIMARÃES ROSA E A FEIURA

Fui ao hospital levar os filhos para uma consulta, enquanto aguardava  três horas para uma consulta de três minutos, como é típico no serviço público de saúde, notei sobre uma mesinha na sala de triagem, o livro Grande Sertão Veredas.
Recém-chegada a este lugar, que é a um só tempo longe de tudo e de todos os amigos que pertencem a mesma tribo de loucos que eu, fiquei ansiosa, à espreita daquele leitor, possível amigo ou amiga, que me levaria a um novo círculo de amizades e ao famoso sentimento de pertença descrito por Maslow.
Um dos meus filhos é chamado para a triagem e o livro permanece repousando, como se tivesse ali chegado por mãos invisíveis. A enfermeira me faz as perguntas de praxe: deu febre? vomitou? etc. Eu respondo distraída, sem tirar os olhos de cima do Guimarães, mas num minuto que dedico a verificar o peso da criança a mesinha fica vazia. Angustio-me enquanto ela repete os procedimentos com a menina. Meus pensamentos alternam-se: "Alguém o roubou e o dono não percebeu!" "Quem é o dono?" 
Finalmente livre, volto à sala de espera e passo em revista todos os pacientes sentados a minha volta: nada! Levanto-me e, como quem não quer nada, olho dentro do guichê de atendimento: o funcionário apenas boceja. Tudo aponta para o fato de que ele se foi. Conformar-me eis o que me resta! De repente, meus olhos, meu cérebro e meu coração, percebem ao mesmo tempo: Lá! Um pouco afastado, em pé, de costas, com os braços flexionados. Só pode estar lendo! 
Posso ouvir o vibrar dos meus batimentos enquanto caminho até ele e digo: 
__Oi! Estive observando você... 
E trocamos impressões, autores, acervo e vamos nos tornando amigos de infância e descubro que ele tem outro amigo pra me apresentar e começo a me sentir em casa. Sinto a emoção do reencontro, sei que ele ouve o mesmo tipo de música, deve gostar de cachorro, bebemos café e conversamos muitas tardes.
Saio do transe no exato segundo em que ele se volta para o lado onde estou, incomodado pelo sol no rosto. Paraliso, os músculos retesam, lá está um cara feíssimo! No mundo tem gente bonita, gente regular, gente feia e o sujeito em questão. 
Lutei duramente contra meu preconceito: 
__ A beleza é só um conceito.
__ Ele deve usar aquele livro pra atrair vítimas.
__ Ele é belo por dentro.
__ Lembre-se de Vinícius...
Antes que a guerra terminasse, fui chamada para a consulta e quando retornei, decidida a me apresentar, ele se fora.

MACHADO DE ASSIS: A DIVINDADE!

Você já viu alguém descrever o jogo da sedução e do amor proibido com tanta maestria, como no trecho que transcrevo a seguir? 
" Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada a fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro". (A Cartomante)