domingo, 14 de março de 2010

APROVEITANDO A GREVE PARA UM MOMENTO DE REFLEXÃO SOBRE QUALIDADE DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

Bastou o início da greve dos professores estaduais para pipocarem adesões e críticas por todos os lados. Fato curioso é que geralmente a sociedade não se envolve quando uma categoria tão essencial à formação da cidadania está ganhando mal, mas se ela toma alguma atitude para tentar reverter o quadro, é como se fosse final de campeonato, com torcida organizada e tudo, basta ver os debates acirrados nas caixas de comentário das notícias.
Um comentário que sempre me parece bastante representativo por parte de pais e estudantes é a preocupação com o final do ano letivo e com as reposições aos sábados porque demonstra a pouca importância atribuída a qualidade da educação que estão recebendo. Para a maioria desses usuários do sistema público de ensino, parece importar tão somente o cumprimento da carga horária anual de estudo, de preferência com aprovação facilitada para todos, sem levar em consideração o fato de que é com essa formação precarizada que terão que se haver no mundo do trabalho e exercer sua cidadania condignamente.
A relação existente entre a qualidade da educação formal que recebem na escola e a vida cotidiana parece não estar clara para essas pessoas que por algum motivo nunca se perguntam por que existem classes sociais ou por que estão do lado de baixo da pirâmide ou ainda por que recebem sempre menos da vida, em termos de direitos sociais. Encaram isso simplesmente como sina, acaso ou incapacidade pessoal e não como produto da sociedade dos homens e das diretrizes políticas adotadas em nome do povo.
Esta mentalidade bovina vai ao encontro das políticas educacionais da atualidade que buscam índices numéricos considerados bons, com o menor custo possível. Assim o professor é pressionado a trabalhar com carga horária altíssima, de preferência por 60 horas semanais, em umas três escolas, lecionando disciplinas para a qual ele não tem nenhuma formação, aprovando para aumentar o IDEB, sem grana para se atualizar ou comprar livros, em prédios a ponto de desabarem, com salas superlotadas, mal iluminadas e sem ventilação, dentre outros problemas ainda mais graves existentes no ambiente escolar.
As consequências de tal linha de ação se fazem sentir: campanhas tentando incentivar jovens a cursar uma licenciatura porque em todo o país falta professores; concursos e mais concursos e as vagas continuam à espera de quem as queira; redução da duração e flexibilização dos cursos destinados ao exercício do magistério; formação em serviço para áreas consideradas críticas – ciências, biologia, química, física -  nas quais a falta de professores é mais incisiva, além de outras medidas do mesmo naipe que são apenas placebos pois de nada servirão para aumentar a tão propagandeada qualidade na educação, nem o número de profissionais disponíveis.
Se qualidade na educação não fosse apenas uma bandeira política fácil, medidas como salário digno para professores, sólida formação inicial e continuada, condições de trabalho e estudo para professores e alunos no ambiente escolar, alto grau de exigência para ingresso na carreira seriam exemplos de ações que recuperariam o prestígio da profissão e atrairiam as melhores cabeças para o magistério.
Sobre a greve resta dizer que, apesar de toda a minha torcida favorável, provavelmente será um fracasso, como de resto tem sido as greves de professores em todo o país e quando isso acontece, todos nós perdemos um pouco mais da nossa inocência, ao vermos que o mais forte sempre vence, seja pela truculência e força como Yeda Crusius fez ano passado no Rio Grande do Sul ou pelo corte no pagamento como está fazendo atualmente José Serra. E como o carnaval encerrou ainda há pouco, vale ainda o aquele grito: OLHA AS ELEIÇÕES 2010 AÍ, GENTEEE! 

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